Ciência para a frente e religião para trás…
Há um equívoco segundo o qual à medida que a ciência avança a religião recua. Tem razão de ser, embora como equívoco… Com o Renascimento e o desenvolvimento rápido das ciências físicas e matemáticas e de muitos instrumentos de observação, especialmente o telescópio, o conhecimento empírico ganhou crescente autonomia em relação à filosofia e à teologia. Galileu não teve apenas problemas com os teólogos, mas também com os filósofos. Os problemas que a filosofia aristotélica enfrentava com a nova scientia estão bem ilustrados na obra de Galileu “Diálogo sobre os dois grandes sistemas do mundo”. Dada a estreita relação que se tinha estabelecido entre a filosofia aristotélica e a mundivisão cristã, era natural que os problemas da primeira arrastassem na sua queda a segunda. Foi a partir daqui que se estabeleceu o equívoco do recuo da religião com o avanço da ciência…
Ora, o que aconteceu desde o Renascimento não tem sido o recuo da religião provocado pelo avanço da ciência, mas sim um progressivo esclarecimento, que ainda hoje continua, da natureza da religião e da natureza da ciência. A religião não tem que ser para os crentes a fonte do conhecimento dos fenómenos naturais, do modo como funcionam as leis da natureza. Tal tarefa pertence à ciência. Por outro lado, a ideia de uma ciência que prometia um conhecimento objectivo e definitivo do universo e da vida deu lugar a uma concepção de ciência em que muito do que parecia definitivo se revela provisório. Apesar das pontes, possíveis e desejáveis, a autonomia de cada uma das áreas só pode ser benéfica, tanto para a ciência como para a religião, no sentido de levar a que se esclareça cada vez mais a natureza de cada uma delas.