Deus, razão e testemunho
A atitude de acreditar ou não em Deus, tem uma base racional, mas esta base não é suficiente. Não é do mesmo género da base racional da filosofia ou da ciência. Não existe nenhuma prova filosófica ou científica da existência de Deus. Toma-se aqui «prova» no sentido em que se demonstra, sem margem para dúvidas, por exemplo, que a Terra tem uma forma aproximadamente esférica e gira à volta do Sol. A racionalidade da fé baseia-se, entre outras coisas, no testemunho que chega a cada geração a partir dos primeiros crentes. Este é o género de prova que é normalmente aceite, por exemplo, nos tribunais. Além da evidência empírica (um corpo morto, por exemplo, no caso de um assassínio, uma arma com que foi realizado o crime, etc.), há a evidência testemunhal. O tribunal aceita em geral o testemunho das pessoas que poderão ajudar a chegar a uma conclusão objetiva sobre o autor do crime, conclusão em que se baseia o juiz para pronunciar a sentença. É claro que as testemunhas podem mentir, mas isto não significa que a prova testemunhal não seja considerada seriamente. A experiência religiosa de quem acredita em Deus tem por isso uma base testemunhal: é a relação que tenho com os outros cristãos e com Deus que me leva a dar-lhes crédito, isto é, a acreditar neles. O cristão não tem razões para não os acreditar, naquilo que constitui o núcleo central da sua fé. Tem, pelo contrário, todas as razões para lhes dar crédito, mesmo tendo em conta que a história do cristianismo é feita de luzes e sombras…