Fátima…
No que se refere às aparições de Fátima ou a quaisquer outras, não há nenhum documento da Igreja que obrigue à sua aceitação. Os fiéis são livres de acreditar ou não nessas aparições. O que a Igreja Católica faz é verificar se, pelo facto de alguém dizer que teve uma aparição, se gerou uma determinada prática devocional que se vai revelando significativamente positiva para as pessoas, em coerência com o corpo doutrinal da Igreja e em obediência às autoridades dessa mesma Igreja. Também a qualidade de vida da pessoa que relata aparições é fundamental para a sua credibilidade. Quando estas condições se verificam, a Igreja Católica encoraja esse culto e essa devoção pois tem potencialidades para levar as pessoas a uma vida de maior autenticidade humana e cristã. Há muitas manifestações à volta de aparições e respectivos santuários que a Igreja Católica desaconselha precisamente porque vão numa linha que não responsabiliza a pessoa por uma vida mais autêntica. Por vezes, as pessoas que vão a Fátima também visitam as bruxas, as quais lhes dizem que ir a Fátima acender três velas à Virgem Maria vai afastar o mau-olhado de uma vizinha que lhe produz cólicas no fígado! Ora, seria um equívoco culpar a Virgem Maria, ou as suas aparições, ou a Igreja Católica, de práticas como estas e outras semelhantes. Estamos num dos problemas centrais da prática religiosa de muitas pessoas: uma mistura do cristianismo com elementos de antigas crenças nas quais a relação das pessoas com Deus era baseada no medo e no desejo de aplacar a ira dos deuses e obter os seus favores em proveito pessoal e em prejuízo dos inimigos. O que se passa com Fátima é que a experiência dos que lá vão tem a potencialidade de encorajar as pessoas a mudar de vida num sentido mais humanizante. Este é, aliás, o cerne da mensagem de Fátima: «Que os homens se convertam e se tornem bons», no sentido do evangelho de Jesus Cristo.